quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

CARNAVAL


O ruído atordoante dos instrumentos de percussão incitava ao culto bárbaro do prazer alucinante, misturando-se aos trovões galopantes enquanto os corpos pintados, semidespidos, estorcegavam em desespero e frenesi, acompanhando o cortejo das grandes escolas de samba, no brilho ilusório dos refletores, que se apagariam pelo amanhecer.
Como acontecera nos anos anteriores, aquela segunda-feira de carnaval convidava ao desaguar de todas as loucuras no delta das paixões da avenida em festa.
Milhares de pessoas imprevidentes, estimuladas pela música frenética, pretendendo extravasar as ansiedades represadas, cediam ao império dos desejos, nas torrentes da lubricidade que as enlouquecia.
A delinqüência abraçava o vício, urdindo as agressões, em cujas malhas se enredavam as vitimas espontâneas, que se deixavam espoliar.
As mentes, em torpe comércio de interesses subalternos, haviam produzido uma psícosfera pestilenta, na qual se nutriam vibriões psíquicos, formas-pensamento de mistura com entidades perversas, viciadas e dependentes, em espetáculo pandemônico, deprimente.
As duas populações – a física e a espiritual, em perfeita sintonia – misturavam-se, sustentando-se, disputando mais largas concessões em simbiose psíquica.
Não obstante, como sempre ocorre em situações desta natureza, equipes operosas de trabalhadores espirituais em serviço de emergência, revezavam-se, infatigáveis, procurando diminuir o índice de desvarios, de suicídios a breve e largo prazo pelas conexões que então se estabeleciam, para defender os incautos, menos maliciosos, enfim socorrer a grande mole em desequilíbrio ou pronta para sofre-lhe o impacto.
Onde a criatura coloque suas aspirações, ai encontra intercâmbio. O homem é o somatório dos seus anelos e realizações. Enquanto não elabore mais altas necessidades íntimas, demorar-se-á nas permutas grosseiras da faixa dos instintos primários. Em razão disso, a humanidade padece de carências urgentes nas áreas rudimentares da vida... Deixando-se martirizar pelos desejos inconfessáveis, ainda não se resolveu por uma conduta, realmente emocional, que lhe permita o trabalho íntimo de desembaraçar-se das sensações que respondem pelos interesses grosseiros, geradores das lutas pela posse com a predominância do egoísmo.
Até agora a conquista do belo e a liberação dos vícios têm sido desafios para os espíritos fortes, que marcham à frente, despertando os da retaguarda, anestesiados na ilusão e agrilhoados aos prazeres aliciantes, venenosos.
Não nos cabe, todavia, duvidar da vitória do amor e do êxito que todos conseguirão hoje ou mais tarde.

( Divaldo Pereira Franco, Nas fronteiras da loucura – Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda.)

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