quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A RESSUREIÇÃO - O ESPÍRITO - A FÉ

"Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos, ouvirão a voz do Filho do Homem e sairão: os que fizeram o bem para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição do juízo." (João V, 28-29.)

"Quando vier o Espírito da Verdade, que procede do Pai, dará testemunho de mim, e vós também dareis porque estais comigo desde o começo." (João XV, 26-27.)

"Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações; e eu vos confiro domínio real, assim como meu pai mo conferiu, para que comais e bebais à minha mesa no meu reino; e vos sentareis sobre tronos para julgardes as doze tribos de Israel." (Lucas, XXII, 28-30.)

"O Espírito é que vivifica, a carne para nada aproveita." (João VI, 63.)

"Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a este sicômoro: arranca-te e transplanta-te no mar, e ele vos obedeceria. " (Lucas, XVII, 6.)

Completara-se o período de 40 dias durante o qual Jesus, senhor e salvador nosso, depois da crucificação e morte de seu corpo, permanecera com seus discípulos, congregando-os num mesmo Espírito para que pudessem, igreja militante, dar começo à nobre missão que lhes havia sido outorgada.
As aparições diárias de Jesus àquela gente que deveria secundá-lo no ministério da divina lei, haviam abrasado seus corações; e seus suaves e edificantes ensinamentos, cheios de mansidão e humildade, tinham exaltado aquelas almas, elevando-as às culminâncias da espiritualidade, saneando-lhes o cérebro e preparando-os, vasos sagrados, para receber os Espíritos santificados pela sua palavra, como antes lhes havia ele prometido, conforme narra o evangelista João.
Tinha o Mestre de deixar a Terra, transpor os mundos que flutuam em derredor do Sol e elevar-se à sua suprema morada, para prosseguir na tarefa que Deus lhe confiara.
Avizinhava-se o momento da partida. Ele iria, mas com ampla liberdade de ação. Sempre que lhe aprouvesse viria observar o movimento que se teria de operar entre as "ovelhas desgarradas de Israel", as quais ele queria reconduzir ao "sagrado redil".
Ao dar-lhes suas últimas instruções, recomendou-lhes que não saíssem de Jerusalém, (Lucas, XXIV, 49), onde veriam o cumprimento da promessa de que lhes falara, e que era a comunhão com o Espírito.
Nesse ínterim, os discípulos o interrogaram a respeito do tempo em que o reinado de Deus viria estabelecer-se no mundo. Ao que lhes respondeu: "Não vos compete saber tempos nem épocas da transformação do mundo, mas sim serdes minhas testemunhas em toda a Terra, da doutrina que ouvistes, para que o Espírito seja convosco."
Deveriam os discípulos identificar-se com o Espírito e conhecer o Espírito da Verdade, para, com justos motivos, anunciar às gentes, a Nova da Salvação que libertá-las-ia do mal. Quem seria, pois, esse Espírito da Verdade, esse extraordinário Consolador que, portador de todos os dons e com todos os poderes, viria realizar tão grande missão?
Seria um ente singular, miraculoso, abstrato, sem significação decisiva e patente para os novos arautos propulsores do progresso humano?
Certamente que não, o Espírito Santo, Espírito da Verdade, Espírito Consolador, conquanto representando em unidade a Ciência, o Amor, a Filosofia, há de forçosamente constituir a coletividade de Espíritos evoluídos, não mais sujeitos às vicissitudes terrenas, e em completa harmonia de vistas para o bom exercício da alta missão que, de fato, desempenharam e continuam a desempenhar.
O Espírito Santo não é um símbolo, uma entidade abstrata, misteriosa, mas as altas individualidades, os ilustres sábios e santos do mundo espiritual, que assumiram o encargo de executar a lei divina, e o fazem aqui na Terra pelo ministério dos profetas, ou seja, pelos médiuns, porque profeta, na linguagem antiga, outra coisa não é senão médium.
O Evangelho emprega no singular a expressão Espírito Santo, não para designar uma pessoa, mas uma coletividade, como nós empregamos a palavra governo, para exprimir a junta governativa de um país ou de uma cidade.
Os discípulos, que iam receber a investidura de apóstolos, constituíam a igreja militante, isto é, a que age na Terra; assim como os Espíritos que compõem a unidade santificante, constituem a igreja triunfante.
De maneira que, em rigor, podemos afirmar que, atualmente, segundo se depreende do trecho, Pedro, Paulo, João, todos os apóstolos e os chamados santos que se distinguiram por suas virtudes, fazem parte dessa Unidade - Espírito Santo, assim como no tempo em que eles estavam no mundo, outros Espíritos Santos, do mundo espiritual, vieram testemunhar-lhes e transmitir, por seu intermédio, as mensagens divinas que lhes cabia divulgar.
Mas, narram os Atos dos Apóstolos que, havendo Jesus concluído os ensinos preparatórios para que seus discípulos pudessem receber o Espírito, estes viram o grande Messias, de volta à eterna morada, ir-se elevando aos ares até que desapareceu aos olhos de todos.
Maravilhados com tão singular ascensão, cheios de alegria, admirados do extraordinário poder do divino Mestre, eles se mantinham, olhos fitos no céu, quando foram atraídos por dois elevados Espíritos que, trajando vestiduras brancas, se puseram a seu lado, e lhes perguntaram: "Galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus que se elevou nesse momento dentre vós para ser acolhido nos Céus, pela mesma maneira virá, quando precisar visitar a Terra." (Atos, I, 10-11)
Quantos fenômenos interessantes, quantos fatos espíritas de aparições, de comunicações, de visões, narra o Evangelho! Quantas provas de imortalidade deu o ilustre nazareno a seus discípulos! Quantas luzes irradiam desta passagem que estamos estudando!
Como poderiam aparecer dois varões com vestiduras brancas, se não houvesse Espíritos no espaço? Donde poderiam vir eles se não houvesse uma outra vida além do túmulo? Como poderia Jesus ficar quarenta dias, depois de sua morte, com seus discípulos, se o homem fosse todo matéria? E como poderia ele se elevar aos espaços se esse corpo, que sobrevive à morte corporal, não fosse de natureza espiritual, como o proclamou o apóstolo dos gentios!
Foram esses fatos portentosos que ergueram os galileus conturbados pela morte de seu Mestre; foram essas aparições que os encheram de fé e fizeram que arrostassem todos os tropeços, afrontassem todos os suplícios, vencessem todas as barreiras! Foi o grito da imortalidade que lhes despertou o raciocínio, venceu-lhes a timidez, vivificou-lhes o cérebro e o coração para que saíssem por toda a parte a anunciar a todas as gentes, a palavra do Deus vivo, os esplendores da vida eterna!
Ao influxo de generosos sentimentos, cheios de vida, revestidos de energia, iluminados por essa esperança que só a verdadeira fé pode dar, é que eles, descendo do Monte das Oliveiras, onde haviam recebido as ordens do Filho de Deus, voltaram para Jerusalém, onde ficaram aguardando a recepção da ilustre visita do Espírito Consolador, para iniciarem a missão redentora que com tanta coragem desempenharam.
E então passaram mais ou menos dez dias em profunda meditação, em fervorosas orações, mantendo na doce calma do Cenáculo, os sentimentos da mais viva fraternidade, que os envolvia com as meigas carícias dos olhares de Deus.
Dentre todos, além dos onze apóstolos, salientavam-se as santas mulheres, e o total formado era de 120 pessoas, que perseveraram unânimes em oração e recordando os altos ensinamentos que seu Mestre lhes legara.
A história do Cristianismo é a suave melodia que canta a glória desses acontecimentos maravilhosos de que nos falam as Escrituras, começados no Sinai e sancionados pelos reaparecimentos do grande enviado.
Quem estudar com boa vontade e critério, todo esse desenrolar de manifestações espíritas, todos esses fenômenos supra-sensíveis e supra-normais relatados por todos os profetas e patriarcas referidos no Velho Testamento e referendados no Novo por uma soma não menos considerável de fatos, que estão em íntima ligação com o mundo espiritual; quem estudar com espírito desprevenido todas essas manifestações espíritas que tanta esperança nos vêm dar, não pode deixar de Ter uma fé viva, robusta, inteligente, racional, de que o fim da religião é preparar-nos, não só para a vida presente como também e, especialmente, para a futura, onde, na pátria invisível, prosseguiremos nosso labor de aperfeiçoamento para nos aproximarmos de Deus.
Justificada nesses princípios, nossa fé se ergue poderosa, inabalável, semelhante àquela "casa construída sobre a rocha", lembrada na parábola.
É o sentimento da imortalidade que nos anima, é a certeza da outra vida que nos faz viver nesta com a fronte erguida, sem desfalecer, embora sangrando os pés por estradas pedregosas, dilacerando as carnes nos espinhos que tentam impedir nossa marcha triunfal para o bem, para a verdade, para Deus.
É revestidos da imortalidade que singramos os mares borrascosos da adversidade em frágil batel, sem que ondas impetuosas nos afastem do norte da vida.
Sem essas luzes que nos vêm do Além, sem essas claridades que surgem dos túmulos, sem esse poderoso farol habilmente manejado pelos Espíritos do Senhor, como poderíamos manter a estabilidade na fé?
Sem dúvida alguma, o Espiritismo é a base em que se fundamenta essa crença que nos arrima e fortalece.
É ele ainda que nos ensina a benevolência, o amor, a humildade, o desapego aos bens do mundo; as altas lições de altruísmo, de abnegação que a imortalidade nos impõe.
Como poderíamos, ante uma sociedade materializada e metalizada, renunciar a gozos, fortuna, posições, comodidades, se não tivéssemos a certeza das nossas convicções e se essas convicções não se assentassem em fatos positivos, palpáveis, visíveis, tangíveis que os Espíritos nos proporcionam?
Como poderíamos nesta época de depressão moral que atravessamos, de mercancia vil, de rapina descarada, de toda sorte de baixezas, como poderíamos esforçar-nos para nos livrarmos da corrupção do século, até com prejuízo da nossa vida material?
Qual é o homem racional que, tendo certeza de que tudo acaba no túmulo, renuncia a fortuna, prazeres, bem-estar, em benefício de terceiros, em benefício de outros que terão também, forçosamente, como fim da existência, uma cova rasa no quadrado de um cemitério?
Qual é esse louco que, podendo comer, beber, folgar, alimentar-se do suco da vida, tendo certeza de que tudo termina com a morte, vai viver do bagaço, vai repartir o seu sangue com os maltrapilhos e párias que enchem as ruas e as praças?
Olhai as grandes catedrais com todas as suas pompas, perscrutai seus sacerdotes, observai os felizes do mundo com suas comodidades, sua fortuna, inquiri suas crenças e vereis que a fé não lhes anima o coração!
Saí pelas ruas, pelas praças, agitai a bandeira da imortalidade e vereis todos esses gozadores atirar sobre vós e o vosso estandarte, as mais duras imprecações, as mais loucas diatribes!
É que Ihes falta a fé para o raciocínio, falta-lhes o critério que nasce da mesma fé, falta-lhes a verdade para melhor se guiarem na trilha do dever imposto por Deus.
Entretanto, assim como pensam, agem. Só crêem nesta vida, aproveitam dela tudo o que ela tem de bom, porque, de fato, é irrisório e irracional sacrificar prazeres e comodidades para ter em recompensa as voragens do nada.
Sem a fé, nenhum sentimento generoso poderá erguer a alma humana; sem a fé, nenhuma caridade, nenhuma esperança, nenhuma virtude pode nascer, crescer, florescer, frutificar na consciência dos homens.
A fé é o principal motor da religião, é o fator de todos os atos nobres, de todos os arroubos da alma, de todas as boas ações.
Ela remove todas as dificuldades para aquele que caminha para Deus; brilha na inteligência como o Sol no espelho das águas; dignifica o homem, eleva-o ilumina-o e santifica-o!
Não há palavra que ocupe menor número de letras e mais saiba falar ao cérebro e ao coração.
Com uma só sílaba exprime tudo o que necessita a criatura para conseguir a sua salvação.
Ter fé é ter certeza nos nossos destinos imortais, é guiarmo-nos por essa estrada grandiosa, iluminada, que o Cristo nos legou.
Ter fé é ser possuidor do maior tesouro que a alma humana pode adquirir na Terra.
Foi interpretando esta grande virtude, que Paulo dedicou toda a sua grande Epístola aos romanos, chegando a afirmar que todos os grandes da Antigüidade, pela fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram as promessas, taparam as bocas aos leões, extinguiram a violência do fogo, evitaram o fio de espadas; de fracos se tornaram fortes, fizeram-se poderosos e puseram em fuga exércitos estrangeiros!
O Espiritismo vem fazer realçar estes três fatores do progresso humano: a ressurreição, o Espírito e a fé, como partes integrantes de um mesmo todo e indispensáveis ao outro, testemunhos vivos que se afirmam e se completam.
Colunas principais do Cristianismo, são eles que nos dão a visão da outra vida, na qual colheremos o frutos do nosso trabalho, dos nossos esforços, pelo nosso próprio aperfeiçoamento.

Cairbar Schutel

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