A cidade, regorgitante, era um pandemônio. A multidão de desencarnados que se misturava à mole humana em excitação dos sentidos físicos, dominava a paisagem sombria das avenidas, ruas e praças feericamente iluminadas, mas cujas luzes não venciam a psicosfera carregada de vibrações de baixo teor. Parecia que as milhares de lâmpadas coloridas apenas bruxuleavam na noite, como ocorre quando desabam fortes tempestades.
Os grupos mascarados eram acolitados por frenéticas massas de seres espirituais voluptuosos, que se entregavam a desmandos e orgias lamentáveis, inconcebíveis do ponto de vista terreno.
Uns magotes desenfreados atacavam os burlescos transeuntes, tentando prejudicá-los com as induções nefastas que se permitiam transmitir.
Outros, compostos de verdugos que não disfarçavam as intenções, buscavam as vítimas em potencial para alijá-las do equilíbrio, dando início a processos nefandos de obsessões demoradas.
A sucessão de cenas, deprimentes umas, selvagens outras, era constrangedora.
Os trechos acima, do autor espiritual Manoel Philomeno de Miranda no livro Nas fronteiras da Loucura, psicografado por Divaldo Pereira Franco, são apenas fragmentos de uma experiência vivida pelo autor no plano espiritual, por ocasião de um carnaval na cidade do Rio de Janeiro.
Chama-nos a atenção a advertência do mentor espiritual Bezerra de Menezes a Manoel Philomeno de Miranda, contida na narrativa do mesmo livro: - Miranda, de nossa parte, nenhuma censura ao comportamento dos nossos irmão. Grande, expressiva faixa da humanidade terrena transita entre os limites do instinto e os pródomos da razão, mais sequiosos de sensações do que ansiosos pelas emoções superiores. Natural que se permitam, nestes dias, os excessos que reprimem por todo o ano, sintonizados com as Entidades que lhes são afins. É de se lamentar, porém, que muitos se apresentam, nos dias normais, como discípulos de Jesus, preferindo agora, Baco e os seus assessores de orgia ao amigo Afetuoso...
O carnaval, para os que não estão nada preocupados com outra coisa senão a “folia”, é uma excelente oportunidade para descontrair, extravasar, é uma espécie de vale tudo, onde regras de comportamento são quebradas, excessos são permitidos, proporcionando desequilíbrios e mais desequilíbrios. Na atualidade, fala-se muito sobre violência, a pornografia, as drogas, os desregramentos sexuais, porém a cada carnaval que passa tudo isso toma cores acentuadas no noticiário. Se por um lado existe a preocupação com o alcoolismo, é nessa época que mais se vê o incentivo ao consumo de álcool, a título de evitar que a AIDS se alastre, distribui-se preservativos como se atira confete, com propagandas que não esclarecem quanto ao abuso do sexo, mas sim o incentivam.
Voltemos à narrativa de Manoel Philomeno de Miranda. “Desde a sexta-feira que as equipes arregimentadas tomavam postos, completando-se as providências, na noite de sábado, quando os foliões surgiram e os bailes ruidosos, carregados de bebidas, drogas e permissividades tiveram início.
Trabalhadores do nosso plano diligenciavam atendimentos a pessoas encarnadas que, em parcial desprendimento pelo sono, rogavam ajuda para os familiares inexperientes, que se arrojavam à folia enlouquecedora; afetos que se preocupavam com a alucinação de pessoas queridas, que se desvincularam dos compromissos assumidos, a fim de mais se atirarem no Dédalo das paixões; Espíritos que pretendiam volver à carne e pediam oportunidades, nos lances dos encontros irresponsáveis; desencarnados que solicitavam apoio para pessoas amadas com problemas de saúde; urgências para recém-desencarnados em pugnas decorrentes da ingestão de bebidas alcoólicas, de desvarios sexuais, das interferências subjugadoras de seres obsidentes...”
Esses trechos apenas descortinam alguns acontecimentos que o olho humano não vê, mas que são uma infeliz realidade dos que se comprazem com as sensações e paixões efêmeras da matéria, em sintonia com espíritos infelizes que por sua vez também estão presos às mesmas coisas.
Quanto aos que ainda se iludem com o carnaval, dizendo que vão só se divertir um pouquinho, não vão se misturar aos demais, cabe uma colocação importante, não importa aonde vamos e como entramos, mas sim como saímos.
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